"Descobri que a minha obsessão de que cada coisa estivesse no seu lugar, cada assunto no seu tempo, cada palavra no seu estilo, não era o prémio merecido de uma mente ordenada mas, pelo contrário, um sistema completo de simulação inventado por mim para ocultar a desordem da minha natureza. Descobri que não sou disciplinado por virtude, mas como reacção contra a minha negligência; que pareço generoso para encobrir a minha mesquinhez, que passo por prudente por ser pessimista, que sou conciliador para não sucumbir às minhas cóleras reprimidas, que só sou pontual para que não se saiba que pouco me importa o tempo alheio. Descobri, por fim, que o amor não é um estado de alma mas um signo do Zodíaco."
Gabriel García Marquez, em "Memória das Minhas Putas Tristes"
Gabriel García Marquez, em "Memória das Minhas Putas Tristes"
Um comentário:
...descobri, por fim, que sou humana. Às vezes formiga, às vezes a mão que extermina mas, entre uma e outra, frágil, sempre. A minha organização, o meu modo de manter as coisas, cada qual em seu devido lugar, limpas e sóbrias, é só uma forma de fuga. Fuga da vida de formiga e de exterminadora. Mas, é só quando saio desse mundo que consigo ver o meu verdadeiro "eu". E, não, não é a Mariana que mata os peixinhos do aquário, nem a que mantém os livros em ordem alfabética... É só aquela garota que não dispensa um bom chá na companhia de Garcia Márquez.
A vida é tão simples...
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