domingo, 25 de maio de 2008

Onze minutos


Do diário de Maria:
"Não sei o que ele deve ter pensado quando abriu a porta, naquela noite, e me viu com duas malas.
- Não se assuste - comentei logo.
- Não estou me mudando para cá. Vamos jantar.
Ajudou-me, sem nenhum comentário, a colocar minha bagagem para dentro. Em seguida, antes de dizer “o que é isso” ou “que alegria você aparecer”; simplesmente me agarrou e começou a beijar-me, tocar meu corpo, meus seios, meu sexo, como se tivesse esperado por tanto tempo e agora pressentisse que talvez o momento não chegasse nunca.
Tirou meu casaco, meu vestido, deixou-me nua, e foi no hall de entrada, sem qualquer ritual ou preparação, sem mesmo tempo para dizer o que seria bom ou ruim, com o vento frio entrando por baixo da fresta da porta, que fizemos amor pela primeira vez. Eu pensei que talvez fosse melhor dizer que parasse, que procurássemos um lugar mais confortável, que tivéssemos tempo de explorar o imenso mundo de nossa sensualidade, mas ao mesmo tempo eu o queria dentro de mim, porque era o homem que eu nunca possuíra, e nunca mais iria possuir. Por isso eu podia amá-lo com toda a minha energia, ter pelo menos, por uma noite, aquilo que jamais tivera antes, e que possivelmente nunca teria depois.
Deitou-me no chão, entrou em mim antes que eu estivesse completamente molhada, mas a dor não me incomodou - ao contrário, gostei que fosse assim, porque devia entender que eu era sua, e não precisava pedir licença. Não estava ali para ensinar mais nada, ou para mostrar como minha sensibilidade era melhor ou mais intensa que a das outras mulheres, apenas para dizer-lhe que sim, que era bem-vindo, que eu também estava esperando por isso, que me alegrava muito seu total desrespeito às regras que havíamos criado entre nós, e agora exigia que apenas nossos instintos macho e fêmea, nos guiassem. Estávamos na posição mais convencional possível - eu embaixo, de pernas abertas, e ele em cima, entrando e saindo, enquanto eu o olhava, sem vontade de fingir, de gemer, de nada - apenas querendo manter os olhos abertos, para lembrar cada segundo, ver seu rosto se transformando, suas mãos que agarravam meus cabelos, sua boca que me mordia, me beijava. Nada de preliminares, de carícias, de preparações, de sofisticações, apenas ele dentro de mim, e eu em sua alma. Entrava e saía, aumentava e diminuía o ritmo, parava às vezes para me olhar também, mas não perguntava se eu estava gostando, porque sabiá que esta era a única maneira de nossas almas se comunicarem naquele momento.
O ritmo aumentou, e eu sabiá que os onze minutos estavam chegando ao fim, queria que continuassem para sempre, porque era tão bom - ah, meu Deus, como era bom - ser possuída e não possuir! Tudo de olhos bem abertos, e notei que quando já não enxergávamos direito, parecíamos ir para uma dimensão onde eu era a grande mãe, o universo, a mulher amada, a prostituta sagrada dos antigos rituais que ele havia me explicado com um copo de vinho e uma lareira acesa. Senti seu orgasmo chegando, e seus braços seguraram os meus com força. Os movimentos aumentaram de intensidade, e foi então que ele gritou - não gemeu, não mordeu os dentes, mas gritou! Berrou! Urrou como um animal! No fundo da minha cabeça passou rápido o pensamento de que a vizinhança talvez chamasse a polícia, mas isso não tinha importância e eu senti um imenso prazer, porque era assim desde o início dos tempos, quando o primeiro homem encontrou a primeira mulher e fizeram amor pela primeira vez: eles gritaram.
Depois, seu corpo desabou sobre mim, e não sei quanto tempo ficamos abraçados um ao outro, eu acariciei seus cabelos como só havia feito na noite em que nos trancamos no escuro do hotel, vi seu coração disparado ir aos poucos voltando ao normal, suas mãos começaram delicadamente a passear pelos meus braços, e aquilo fez com que todos os cabelos de meu corpo ficassem arrepiados.
Deve ter pensado em algo prático - como o peso de seu corpo em cima do meu; porque rolou para o lado, segurou minhas mãos, e ficamos os dois olhando o teto e o lustre
de três lâmpadas acesas.
- Boa noite - eu lhe disse."

"Onze minutos", de Paulo Coelho.

2 comentários:

Ansiosa disse...

Muito bom!!!

A foto é linda!

Unknown disse...

Nossa... Estou surpresa... Jamais imaginaria que vc lia P.C. Eu já reli 12 vezes o Onze Minutos... choro em todos... Adorei seu post...