segunda-feira, 30 de junho de 2008

Mudam-se os tempos



Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades,
Muda-se o ser, muda-se a confiança;
Todo o mundo é composto de mudança,
Tomando sempre novas qualidades.
Continuamente vemos novidades,
Diferentes em tudo da esperança;
Do mal ficam as mágoas na lembrança,
E do bem, se algum houve, as saudades.
O tempo cobre o chão de verde manto,
Que já coberto foi de neve fria,
E em mim converte em choro o doce canto.
E, afora este mudar-se cada dia,
Outra mudança faz de mor espanto,
Que não se muda já como soía.

Luís Vaz de Camões

domingo, 29 de junho de 2008

Isto basta


Eu gosto de me apaixonar. Eu preciso me apaixonar de tempos em tempos. Não, necessariamente, por alguém, mas por alguma situação ou momento. Para mim, não existe viver sem paixão e, embora eternas, elas esvaecem com a mesma rapidez com que me invade; logo, estou sempre a buscar novas paixões.
Periodicamente eu me encontro apaixonado por pessoas que me encantam, me cativam, me seduzem. A sensação é extasiante. Eu não consigo sonhar sem essas pessoas, por mais que, eventualmente, isso me traga maus sonhos. Não existe felicidade sem tristeza, assim como não existe prazer sem culpa, não para mim. Eu gostaria de poder escolher o que eu sinto, o que eu vivo, direcionar meu destino, mas eu tendo a acreditar que a minha vida não está nas minhas mãos da forma como eu, um dia, imaginei. Me resta aproveitar o que de bom ele traz pra mim. Então assim o faço, me apaixono. Meus pecados mentais purificam minha alma e, ao tentar me libertar dos meus pudores, exponho minhas perversões. As condições se mantêm, continuo solitário mas, por vez ou outra, apaixonado e, para mim, isto basta.

sábado, 28 de junho de 2008

Eu não existo sem você


Eu sei e você sabe, já que a vida quis assim
Que nada nesse mundo levará você de mim
Eu sei e você sabe que a distância não existe
Que todo grande amor
Só é bem grande se for triste
Por isso, meu amor
Não tenha medo de sofrer
Que todos os caminhos
Me encaminham pra você

Assim como o oceano
Só é belo com luar
Assim como a canção
Só tem razão se se cantar
Assim como uma nuvem
Só acontece se chover
Assim como o poeta
Só é grande se sofrer
Assim como viver
Sem ter amor não é viver
Não há você sem mim
Eu não existo sem você

Vinícius de Morais

sexta-feira, 27 de junho de 2008

Imoral


"Porque considero que influir sobre uma pessoa é transmitir-lhe um pouco de sua própria alma; esta pessoa deixa de pensar por si mesma, deixa de sentir as suas paixões naturais. Suas virtudes não são mais suas. Seus pecados, se houver qualquer coisa semelhante a pecados, serão emprestados. Ela tornar-se-á eco de uma música estranha, autora de uma peça que não se compôs para ela. O fim da vida é o desenvolvimento da personalidade. Realizar a sua própria natureza- eis o que todos procuramos fazer. Os homens hoje, amedrontam-se deles mesmos. Esqueceram-se dos maiores de todos os deveres, do dever que cada um deve a si próprio. Naturalmente são caridosos. Nutrem o pobre e vestem os andrajosos, mas deixam as suas almas famintas e andam nus. A coragem nos abandonou; é possível que nunca a possuíssemos! O terror da sociedade, que é a base de toda moral, o terror de Deus, que é o segredo da religião- eis as duas coisas que nos governam."

Oscar Wilde in 'O Retrato de Dorian Gray'

quinta-feira, 26 de junho de 2008

Somebody...

...save me...

quarta-feira, 25 de junho de 2008

O tempo, o amor


Eu aprendi...
...que ignorar os fatos não os altera;

Eu aprendi...
...que quando você planeja se nivelar com alguém, apenas esta permitindo que essa pessoa continue a magoar você;

Eu aprendi...
...que o AMOR, e não o TEMPO, é que cura todas as feridas;

Eu aprendi...
...que ninguém é perfeito até que você se apaixone por essa pessoa;

Eu aprendi...
...que a vida é dura, mas eu sou mais ainda;

Eu aprendi...
...que as oportunidades nunca são perdidas; alguém vai aproveitar as que você perdeu.

Eu aprendi...
...que quando o ancoradouro se torna amargo a felicidade vai aportar em outro lugar;

Eu aprendi...
...que não posso escolher como me sinto, mas posso escolher o que fazer a respeito;

Eu aprendi...
...que todos querem viver no topo da montanha, mas toda felicidade e crescimento ocorre quando você esta escalando-a;

Eu aprendi...
...que quanto menos tempo tenho, mais coisas consigo fazer.


O tempo é muito lento para os que esperam
Muito rápido para os que tem medo
Muito longo para os que lamentam
Muitos curtos para os que festejam
Mas, para os que amam, o tempo é eterno.

Willian Shakespeare

terça-feira, 24 de junho de 2008

Bons amigos


Abençoados os que possuem amigos, os que os têm sem pedir.

Porque amigo não se pede, não se compra, nem se vende.

Amigo a gente sente!


Benditos os que sofrem por amigos, os que falam com o olhar.

Porque amigo não se cala, não questiona, nem se rende.

Amigo a gente entende!


Benditos os que guardam amigos, os que entregam o ombro pra chorar.

Porque amigo sofre e chora.

Amigo não tem hora pra consolar!


Benditos sejam os amigos que acreditam na tua verdade ou te apontam a realidade.

Porque amigo é a direção.

Amigo é a base quando falta o chão!


Benditos sejam todos os amigos de raízes, verdadeiros.
Porque amigos são herdeiros da real sagacidade.

Ter amigos é a melhor cumplicidade!


Há pessoas que choram por saber que as rosas têm espinho,

Há outras que sorriem por saber que os espinhos têm rosas!


Machado de Assis

segunda-feira, 23 de junho de 2008

O que, por que e para quem?


Já não compramos laranjas, compramos vitalidade, já não compramos um automóvel, compramos prestígio. (...) Com um dentifrício, por exemplo, adquirimos, não um mero antisséptico ou um produto de higiene, mas sim a libertação do medo de sermos sexualmente repulsivos. Com o vodka ou o whisky não adquirimos um veneno protoplásmico que, em pequenas doses, pode afetar o sistema nervoso de maneira psicologicamente valiosa; estamos adquirindo amizade e boa camaradagem... (...) Com o best-seller do mês adquirimos cultura, a inveja dos vizinhos menos ilustrados e a admiração dos que são intelectuais.


Aldous L. Huxley

domingo, 22 de junho de 2008

Desejos

"No fim da rua Pedro Bala viu um vulto. Parecia uma mulher andava apressada. Sacudiu seu corpo de menino como se sacode animal jovem ao ver a fêmea, e com passo rápido se aproximou da mulher que agora entrava no areal. A areia chiava sob os pés e a mulher notou que era seguida. Pedro Bala podia vê-la bem quando ela passava sob os postes: era uma negrinha bem jovem, talvez tivesse apenas 15 anos como ele. Mas os seios saltavam pontiagudos e as nádegas rolavam no vestido, porque os negros mesmo quando estão andando naturalmente é como se dançassem. E o desejo cresceu dentro de Pedro Bala, era um desejo que nascia da vontade de afogar a angústia que o oprimia. Pensando nas nádegas rebolantes da negrinha. (...) Pensava em derrubar a negrinha sobre a areia macia, em acariciar seus seios duros (talvez seios de virgem, sempre seios de menina), em possuir seu corpo quente de negra. Apressou seus passos, porque a negrinha se desviara da rua que cortava o areal e se internara por este, se afastando dos postes de iluminação. Mas quando ela notou que Pedro Bala estava cada vez mais próximo, se lançou para a frente quase correndo. Pedro compreendeu que ele ia para uma daquelas ruas perdidas entre o morro e o mar, e que se atravessava o areal era para fazer caminho mais curto e com mais facilidade poder fugir dele. Ia um silêncio por todo o cais, só chiar da areia sob os passos deles fazia estremecer de medo o coração da negrinha e de impaciência o coração de Pedro Bala. Mas estava cada vez mais próximo. Andava muito mais rápido que a negra e a alcançaria com mais dez passos. (...) Pedro sorria, um sorriso de dentes apertados, era igual a um animal feroz caçando no deserto um outro animal para seu almoço. Quando já ia levando a mão para tocar em seu ombro e fazer com que ela voltasse o rosto, a negrinha começou a correr. Pedro Bala se lançou em sua perseguição e logo a alcançou. Mas ia a tal velocidade que esbarrou nela e ambos rolaram na areia. Pedro se levantou de um salto rindo, chegou para o lado dela, que procurava se pôr em pé:
- Não precisa, lindeza. Assim mesmo tá bom.
O rosto da negrinha era de terror. Mas quando viu que seu seguidor era um menino de quinze para dezesseis anos se animou mais um pouco e perguntou com raiva:
- Que é que tu quer?

- Deixa de orgulho, morena. Vamos bater um papozinho...

E a agarrou pelo braço e novamente a derrubou na areia. O medo voltou a possuí-la, um terror doido. (...) Pedro Bala a queria porque há muito sentia os desejos de homem e conhecia as carícias do amor. Ela não o queria porque fazia pouco que se tornara mulher e pretendia reservar seu corpo para um mulato que a soubesse apaixonar. Não o queria entregar assim ao primeiro que a encontrasse no areal. E está com os olhos entupidos de medo. (...) E olhava em torno de si para ver se enxergava alguém a quem gritar, a quem pedir socorro, alguém que a ajudasse a conservar a sua virgindade, que tinham lhe ensinado que era preciosa. Mas à noite no areal do cais da Bahia não se vêem senão sombras e não se ouvem mais que gemidos de amor, baques de corpos que rolam confundidos na areia. Pedro Bala acariciava seus seios e ela, no fundo de seu terror, começava a sentir um fio de desejo, como um fio de água que corre entre montanhas e vai engrossando aos poucos até se transformar em caudaloso rio. E isso fez com que crescesse o seu terror. Se ela não resistisse contra o desejo e deixasse que ele a possuísse, estaria perdida, iria deixar uma mancha de sangue no areal, da qual ririam os estivadores na madrugada seguinte. A certeza da sua fraqueza lhe deu novo alento e novas forças. Baixou a cabeça, mordeu a mão de Pedro que segurava seu seio. Pedro deu um grito, retirou a mão, ela se levantou e correu. Mas ele a pegou e agora seu desejo estava misturado com raiva.
- Vamos deixar de chove-não-molha - e tentava derrubá-la.
- Deixa eu ir embora, desgraçado. Tu quer fazer minha desgraça, filho da mãe? Deixa eu ir embora, que não tenho nada com tu.

Pedro não respondia. Conhecia outras que faziam chiquê. Em geral porque tinham um amante a esperá-las. Nem por um momento pensou que a negrinha fosse virgem. Mas ela resistia e o xingava, e mordia, batia suas frágeis mãos no peito de Pedro Bala.
- Mas que é que tu viu, cabocla? Tu pensa que eu vou te deixar antes de tu me dar? Deixa de orgulho. Teu macho não vai saber, ninguém fica sabendo. E tu vai ver o que é um homem bom...
E agora fazia por acariciá-la, queria dominar sua raiva, fazer com que ela sentisse desejo. Suas mãos desciam ao longo do seu corpo, deitou-a com esforço. Ela agora repetia num refrão:
- Me deixa, desgraçado... Me deixa, desgraçado...

Ele suspendeu as saias pobres de chita, apareceram as duras coxas da negra. Mas estavam uma sobre a outra e Pedro Bala tentou separá-las. A negrinha reagiu de novo, mas como o menino a estava acariciando e ela sentiu a chegada impetuosa do desejo, não o xingou mais, senão que disse num pedido angustioso:

- Me deixa, que eu sou virgem. Tu pode ser bom, não me querer. Depois tu encontra outra. Eu sou donzela, tu vai me fazer mal.
Ele olhou, ela estava chorando de medo e também porque sua vontade estava enfraquecendo, seus peitos estavam intumescidos.
- Tu é donzela mesmo?
- Juro por Deus Nosso Senhor, pela Virgem - beijava os dedos postos em cruz.
Pedro Bala vacilava. Os seios da negrinha intumescidos sob seus dedos. As coxas duras, a carapinha do sexo.
- Tu tá falando a verdade? - e não deixava de acariciá-la. - Tou, juro.
- Deixa eu ir embora, minha mãe tá me esperando.

Chorava, e Pedro Bala tinha pena, mas o desejo estava solto dentro dele. Então propôs ao ouvido da negra:
- Só boto atrás.

- Não. Não.
- Tu fica virgem igual. Não tem nada.
- Não. Não, que dói.

Mas ele a acarinhava, uma cócega subiu pelo corpo dela. Começou a compreender que se não o satisfizesse como ele queria, sua virgindade ficaria ali. E quando ele prometeu - se doer eu tiro... - ela consentiu.
- Tu jura que não vai na frente?

- Juro.

Mas depois que tinha se satisfeito pela primeira vez (e ela gritara e mordera as mãos), vendo que ela ainda estava possuída pelo desejo, tentou desvirginá-la.
Mas ela sentiu e saltou como uma louca:
- Tu não te contenta, desgraçado, com o que me fez? Tu quer me desgraçar?

E soluçava alto, e levantava os braços, estava como uma louca, toda sua defesa eram seus gritos, suas lágrimas, suas imprecações contra o chefe dos Capitães da Areia. Mas para Pedro a maior defesa da negrinha eram os olhos cheios de pavor, olhos de animal mais fraco que não tem forças para se defender. E como seu maior desejo fosse satisfizera, e como aquela angústia do princípio da noite voltava a dominá-lo, ele falou:

- Se eu te deixar, tu volta amanhã?

- Volto, sim.

- Sô faço o que fiz hoje. Te deixo donzela...
Ela fez que sim com a cabeça. Seus olhos estavam iguais aos de um doido e naquele momento só sentia dor e pavor, vontade de fugir. Agora que as mãos dele, os lábios dele, o sexo de Pedro, não tocavam mais nas carnes dela, seu desejo desaparecera e pensava unicamente em defender sua virgindade. Respirou quando ele disse:

- Então tu pode ir. Mas se tu não voltar amanhã... Quando eu te pegar tu vai ver com quantos paus se faz uma cangalha..."

Jorge Amado em 'Capitães da areia"

sábado, 21 de junho de 2008

All you need is love


There's nothing you can do that can't be done
Nothing you can sing that can't be sung
Nothing you can say, but you can learn how to play the game
It's easy

There's nothing you can make that can't be made
No one you can save that can't be saved
Nothing you can do, but you can learn how to be you in time
It's easy

All you need is love
All you need is love
All you need is love, love
Love is all you need
Love, love, love
Love, love, love
Love, love, love

All you need is love
All you need is love
All you need is love, love
Love is all you need

There's nothing you can know that isn't known
Nothing you can see that isn't shown
Nowhere you can be that isn't where you're meant to be
It's easy

All you need is love
All you need is love
All you need is love, love
Love is all you need

All you need is love
All you need is love
All you need is love, love
Love is all you need
Love is all you need
Love is all you need
Love is all you need
Love is all you need
Love is all you need
(She loves you yeah, yeah, yeah!)

John Lennon & Paul McCartney

sexta-feira, 20 de junho de 2008

A Luz



















Pereça o dia em que nasci e a noite em que foi dito: uma criança masculina foi concebida! Que esse dia se mude em trevas! Que Deus, lá do alto, não se incomode com ele; que a luz não brilhe sobre ele! Que trevas e obscuridade se apoderem dele, que nuvens o envolvam, que eclipses o apavorem, que a sombra o domine; esse dia, que não seja contado entre os dias do ano, nem seja computado entre os meses! Que seja estéril essa noite, que nenhum grito de alegria se faça ouvir nela. Amaldiçoem-na aqueles que amaldiçoaram os dias, aqueles que são hábeis para evocar Leviatã! Que as estrelas de sua madrugada se obscureçam, e em vão espere a luz, e não veja abrirem-se as pálpebras da aurora, já que não fechou o ventre que me carregou para me poupar a vista do mal! Por que não morri no seio materno, por que não pereci saindo de suas entranhas? Por que dois joelhos para me acolherem, por que dois seios para me amamentarem? Estaria agora deitado e em paz, dormiria e teria o repouso com os reis, árbitros da terra, que constroem para si mausoléus; com os príncipes que possuíam o ouro, e enchiam de dinheiro as suas casas. Ou então, como o aborto escondido, eu não teria existido, como as crianças que não viram o dia. Ali, os maus cessam os seus furores, ali, repousam os exaustos de forças, ali, os prisioneiros estão tranqüilos, já não mais ouvem a voz do exator. Ali, juntos, os pequenos e os grandes se encontram, o escravo ali está livre do jugo do seu senhor. Por que conceder a luz aos infelizes, e a vida àqueles cuja alma está desconsolada, que esperam a morte, sem que ela venha, e a procuram mais ardentemente do que um tesouro, que são felizes até ficarem transportados de alegria, quando encontrarem o sepulcro? Ao homem cujo caminho é escondido e que Deus cerca de todos os lados? Em lugar do pão tenho meus suspiros, e os meus gemidos se espalham como a água. Todos os meus temores se realizam, e aquilo que me dá medo vem atingir-me. Não tenho paz, nem descanso, nem repouso; só tenho agitação.

Jó 3,3

quinta-feira, 19 de junho de 2008

O Amor é uma companhia


O amor é uma companhia.
Já não sei andar só pelos caminhos,
Porque já não posso andar só.
Um pensamento visível faz-me andar mais depressa
E ver menos, e ao mesmo tempo gostar bem de ir vendo tudo.
Mesmo a ausência dela é uma coisa que está comigo.
E eu gosto tanto dela que não sei como a desejar.

Se a não vejo, imagino-a e sou forte como as árvores altas.
Mas se a vejo tremo, não sei o que é feito do que sinto na ausência dela.

Todo eu sou qualquer força que me abandona.
Toda a realidade olha para mim como um girassol com a cara dela no meio.

Alberto Caeiro

quarta-feira, 18 de junho de 2008

Pensamentos secretos


"Os pensamentos secretos de um homem estão acima de todas as coisas, o sagrado, o profano, o limpo, o obsceno, o grave, o leviano, sem vergonha ou culpa."

Thomas Hobbes em 'Leviatã'

terça-feira, 17 de junho de 2008

segunda-feira, 16 de junho de 2008

Desiderata


Siga tranqüilamente entre a inquietude e a pressa, lembrando-se de que há sempre paz no silêncio. Tanto quanto possível sem humilhar-se, mantenha-se em harmonia com todos que o cercam. Fale a sua verdade, clara e mansamente. Escute a verdade dos outros, pois eles também têm a sua própria história. Evite as pessoas agitadas e agressivas: elas afligem o nosso espírito. Não se compare aos demais, olhando as pessoas como superiores ou inferiores isso o tornaria superficial e amargo. Viva intensamente os seus ideais e o que você já conseguiu realizar. Mantenha o interesse no seu trabalho, por mais humilde que seja, ele é um verdadeiro tesouro na continua mudança dos tempos. Seja prudente em tudo o que fizer, porque o mundo está cheio de armadilhas. Mas não fique cego para o bem que sempre existe. Em toda parte, a vida está cheia de heroísmo. Seja você mesmo. Sobretudo, não simule afeição e não transforme o amor numa brincadeira, pois, no meio de tanta aridez, ele é perene como a relva. Aceite, com carinho, o conselho dos mais velhos e seja compreensivo com os impulsos inovadores da juventude. Cultive a força do espírito e você estará preparado para enfrentar as surpresas da sorte adversa. Não se desespere com perigos imaginários: muitos temores têm sua origem no cansaço e na solidão. Ao lado de uma sadia disciplina conserve, para consigo mesmo, uma imensa bondade. Você é filho do universo, irmão das estrelas e árvores, você merece estar aqui e, mesmo se você não pode perceber, a terra e o universo vão cumprindo o seu destino. Procure, pois, estar em paz com Deus, seja qual for o nome que você lhe der. No meio do seu trabalho e nas aspirações, na fatigante jornada pela vida, conserve, no mais profundo do seu ser, a harmonia e a paz. Acima de toda mesquinhez, falsidade e desengano, o mundo ainda é bonito. Caminhe com cuidado, faça tudo para ser feliz e partilhe com os outros a sua felicidade.

Max Ehrmann

domingo, 15 de junho de 2008

A Metamorfose


Quando certa manhã Gregor Samsa acordou de sonhos intranqüilos, encontrou-se em sua cama metamorfoseado num inseto monstruoso. Estava deitado sobre suas costas duras como couraça e, ao levantar um pouco a cabeça, viu seu ventre abaulado, marrom, dividido por nervuras arqueadas, no topo do qual a coberta, prestes a deslizar de vez, ainda mal se sustinha. Suas numerosas pernas, lastimavelmente finas em comparação com o volume do resto do corpo, tremulavam desamparadas diante dos seus olhos. (...)
- Que tal se eu continuasse dormindo mais um pouco e esquecesse todas essas tolices? - pensou.

Franz Kafka em 'A metamorfose'

sábado, 14 de junho de 2008

Às vezes nos identificamos


Às vezes nos identificamos. Ninguém sabe
por que este sinal foi feito ou esta palavra dita.
Mas neles nos entendemos e são eles que nos rasgam
este véu de mistério, esta incompreensão patética.

Às vezes nos identificamos. Que anjos são estes
que nos estendem as mãos e nos reconduzem a nós?

Já não somos tão cegos, nem o sofrimento é inútil.


Às vezes nos identificamos. É uma palavra tão súbita,
desejo de perdoar, ou uma total certeza.

A alma fica mais leve, a solidão não pesa.
E a inocência voltando... E esta paz. Esta paz!


Emílio Moura

sexta-feira, 13 de junho de 2008

Verdade, mentira, certeza, incerteza...
Aquele cego ali na estrada também conhece estas palavras.
Estou sentado num degrau alto e tenho as mãos apertadas
Sobre o mais alto dos joelhos cruzados.
Bem: verdade, mentira, certeza, incerteza o que são?
O cego pára na estrada,
Desliguei as mãos de cima do joelho.
Verdade, mentira, certeza, incerteza são as mesmas?
Qualquer coisa mudou numa parte da realidade - os meus joelhos e as minhas mãos.
Qual é a ciência que tem conhecimento para isto?
O cego continua o seu caminho e eu não faço mais gestos.Já não é a mesma hora, nem a mesma gente, nem nada igual.
Ser real é isto.

Fernando Pessoa

quinta-feira, 12 de junho de 2008

Tão contrário a si



O amor é fogo. Mas não se sabe se ele aquecerá o seu coração ou se incendiará a tua casa.


Joan Crawford

quarta-feira, 11 de junho de 2008

Eu faço versos


Eu faço versos como os saltimbancos
Desconjuntam os ossos doloridos.
A entrada é livre para os conhecidos...
Sentai, Amadas, nos primeiros bancos!
Vão começar as convulsões e arrancos
Sobre os velhos tapetes estendidos...
Olhai o coração que entre gemidos
Giro na ponta dos meus dedos brancos!
“Meu Deus! Mas tu não mudas o programa!”
Protesta a clara voz das Bem-Amadas.“
Que tédio!” o coro dos Amigos clama.
“Mas que vos dar de novo e imprevisto?”
Digo...e retorço as pobres mãos cansadas:
“Eu sei chorar...Eu sei sofrer...Só isto!”

Mario Quintana

terça-feira, 10 de junho de 2008

Supereu


A civilização tem de utilizar esforços supremos a fim de estabelecer limites para as pulsões agressivas do homem e manter suas manifestações sob controle por formações psíquicas reativas. Se a civilização impõe sacrifícios tão grandes, não apenas à sexualidade do homem, mas também à sua agressividade, podemos compreender melhor porque lhe é difícil ser feliz nessa civilização.

Freud

segunda-feira, 9 de junho de 2008

Orchid


Me and my helmet
Such an unconventional kid
All intense and kinetic
At best tolerated from afar

Not yet arrested
And by that I mean betrothed
Though a start I am newly courted
I've just not been trusted with alters

I'm a sweet piece of work
Well-intentioned, yet disturbed
Wrongly labeled and under-fed
Treated like a rose as an orchid


My friends, as they weigh in
Get understandably protective
They have a hard time being objective
So inside we cancel each other out

I'm a sweet piece of work
Well-intentioned and unloved
Unlabeled and misunderstood
Treated like a rose as an orchid

You've brought water to me
Making sure my bloom rebounds
You know best of what my special care allows

So I've lived in my blind spot
Thought myself usual when I'm not
And your garden is a nice spot
As long as it is brave and where you are

For this sweet piece of work
High maintenance and deserted
I've been different and deserving
Treated like a rose as an orchid

Sweet piece of work
Overwhelmed, unobserved
I've been bowed down to, but so misread
Treated like a rose as an orchid

Alanis Morissette

domingo, 8 de junho de 2008

Outra Vez


Você foi o maior dos meus casos
De todos os abraços o que eu nunca esqueci
Você foi dos amores que eu tive
O mais complicado e o mais simples pra mim.
Você foi o melhor dos meus erros
A mais estranha história que alguém já escreveu
E é por essas e outras que a minha saudade
Faz lembrar de tudo outra vez.
Você foi a mentira sincera
Brincadeira mais séria que me aconteceu
Você foi o caso mais antigo
O amor mais amigo que me apareceu
Das lembranças que eu trago na vida
Você é a saudade que eu gosto de ter
Só assim sinto você bem perto de mim outra vez.
Esqueci de tentar te esquecer
Resolvi te querer por querer
Decidi te lembrar quantas vezes eu tenha vontade
Sem nada perder.
Você foi toda a felicidade
Você foi a maldade que só me fez bem
Você foi o melhor dos meus planos
E o pior dos enganos que eu pude fazer
Das lembranças que eu trago na vida
Você é a saudade que eu gosto de ter
Só assim sinto você bem perto de mim outra vez.

Isolda

sábado, 7 de junho de 2008

Soneto

Cantem outros a clara cor virente
Do bosque em flor e a luz do dia eterno...
Envoltos nos clarões fulvos do oriente,
Cantem a primavera: eu canto o inverno.

Para muitos o imoto céu clemente
É um manto de carinho suave e terno:
Cantam a vida, e nenhum deles sente
Que decantando vai o próprio inferno.

Cantem esta mansão, onde entre prantos
Cada um espera o sepulcral punhado
De úmido pó que há de abafar-lhe os cantos...

Cada um de nós é a bússola sem norte.
Sempre o presente pior do que o passado.
Cantem outros a vida: eu canto a morte...

Alphonsus de Guimarães

sexta-feira, 6 de junho de 2008

Mágico Veneno


Busque Amor nova artes, novo engenho,
Para matar-me, e novas esquivanças;
Que não pode tirar-me as esperanças,
Pois mal me tirará o que eu não tenho.

Olhai que de esperanças me mantenho!
Vede que perigosas seguranças!
Que não temo contrastes nem mudanças,
Andando em bravo mar, perdido o tenho.

Mas, conquanto não pode haver desgosto
Onde esperança falta, lá me esconde
Amor um mal, que mata e não se vê;

Que dias há que na alma me tem posto
Um não sei quê, que nasce não sei onde,
Vem não sei como, e dói não sei porquê.

Luís de Camões

quinta-feira, 5 de junho de 2008

O Carácter do Destino


Não só as coisas acontecem com as pessoas, (...) cada um gera também aquilo que acontece consigo. Gera-o, invoca-o, não deixa de escapar àquilo que tem de acontecer. O homem é assim. Fá-lo, mesmo que saiba e sinta logo, desde o primeiro momento, que tudo o que faz é fatal. O homem e o seu destino seguram-se um ao outro, evocam-se e criam-se mutuamente. Não é verdade que o destino entre cego na nossa vida, não. O destino entra pela porta que nós mesmo abrimos, convidando-o a passar. Não há nenhum ser humano que seja bastante forte e inteligente para desviar com palavras ou com acções o destino fatal que advém, segundo leis irrevogáveis, da sua natureza, do seu carácter.

Sándor Márai, em 'As Velas Ardem Até ao Fim'

quarta-feira, 4 de junho de 2008

Solombra


Eu sou essa pessoa a quem o vento chama,
a que não se recusa a esse final convite,
em máquinas de adeus, sem tentação de volta.

Todo horizonte é um vasto sopro de incerteza:
Eu sou essa pessoa a quem o vento leva:
já de horizontes libertada, mas sozinha.

Se a Beleza sonhada é maior que a vivente,
dizei-me: não quereis ou não sabeis ser sonho ?
Eu sou essa pessoa a quem o vento rasga.

Pelos mundos do vento em meus cílios guardadas
vão as medidas que separam os abraços.
Eu sou essa pessoa a quem o vento ensina:

- Agora és livre, se ainda recordas

Cecília Meireles

terça-feira, 3 de junho de 2008

Não tem solução


Aconteceu um novo amor
Que não podia acontecer

Não era de amar
Agora o que vou fazer

Não tem solução
Esse novo amor

Um amor a mais

Me tirou a paz

Eu que esperava

Nunca mais amar
Não sei o que faço

Com esse amor demais.


Dorival Caymmi

segunda-feira, 2 de junho de 2008


"Todos têm o seu método tal como todos têm a sua loucura; mas só consideramos sensato aquele cuja loucura coincide com a da maioria."

Miguel Unamuno

domingo, 1 de junho de 2008

Mórbida paixão



Nunca deixe ninguém saber que nossa relação não é absolutamente perfeita.

Não retruque quando Paul falar.

Sempre sorria quando estiver com Paul.
Seja uma namorada perfeita para Paul.

Se Paul pedir uma bebida, traga-a logo e de boa vontade.

Lembre-se de que você é burra.
Lembre-se de que você é feia.

Lembre-se de que você é gorda.

Não sei por que lhe digo essas coisas, pois você nunca vai mudar.


Trecho de um bilhete escrito por Karla Homolka.