quarta-feira, 23 de julho de 2008

...perdida


Os anos se passaram, meu caro Manuel Valadares. Hoje tenho quarenta e oito anos e às vezes na minha saudade eu tenho impressão que continuo criança. Que você a qualquer momento vai me aparecer me trazendo figurinhas de artista de cinema ou mais bolas de gude. Foi você, quem me ensinou a ternura da vida, meu Portuga querido. Hoje sou eu que tento distribuir as bolas e as figurinhas, porque a vida sem ternura não é lá grande coisa. Às vezes sou feliz na minha ternura, às vezes me engano, o que é mais comum.
Naquele tempo. No tempo do nosso tempo, eu não sabia que muitos anos antes, um Príncipe Idiota ajoelhado diante de um altar perguntava aos ícones, com os olhos cheios d'água:
"Por que contam coisas às criancinhas?"
A verdade, meu querido Portuga, é que a mim contaram as coisas muito cedo.
Adeus!

José Mauro de Vasconcelos 'O meu pé de laranja lima'

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