terça-feira, 25 de outubro de 2016

Um dia desses

Hoje acordei triste. Levantei, olhei para toda aquela roupa no chão, passei por cima de tudo rumo ao banheiro. Enxaguei o rosto, escovei os dentes e liguei o chuveiro. Me despi e entrei no chuveiro. Ao sair de casa, percebi que não havia comido nada. Não me faz bem deixar de comer pela manhã, mas não voltei. Ao invés disso, entrei no metro e parti rumo ao escritório. No metro observei essa mulher, ela estava pedindo esmola, mas usava um tênis com aparência de novo, resolvi não julga-la, mas também não lhe dei dinheiro. Já estava tocando a quarta música da minha nova playlist e eu fechei os olhos para melhor me concentrar, eram músicas novas que nunca tinha ouvido, então queria aproveitar para absorvê-las melhor. Ao chegar no escritório, vindo da rua com uma temperatura acima dos trinta graus, percebi que o ar condicionado estava desligado. Tudo bem, pensei. Mas o liguei antes de sentar na minha mesa. Chequei os e-mails e mais do mesmo. Agora estava com a minha lista de afazeres para o dia de hoje nas mãos, porém tudo que eu conseguia pensar era em viajar o mundo. É mais forte que eu, por mais que seja um planejamento de longo prazo, só me passava isso pela cabeça. Sei que não vou rodar o mundo hoje. Possivelmente nem o faça até o fim da minha vida. Mas ainda assim, peguei um papel e comecei a rabiscar. Comecei por destinos nacionais. Me impressionou a quantidade de destinos que me interessam conhecer no Brasil. Conheço pouco o meu país. Tudo bem, pensei. Vamos continuar com a lista. Passando por América do Sul, Central e do Norte. Europa, África, Ásia e Oceania. As ilhas do Pacífico. Uma lista de respeito. Agrupei alguns lugares que caberiam numa mesma viagem, como os países Bálticos. Foram mais de sessenta destinos. Parei, respirei e tomei um gole de água. Já são quase três horas da tarde, preciso sair para o almoço. Respondo um e-mail e faço uma ligação. Aquele homem chato nunca entende direito das suas responsabilidades, então finjo que o entendo, mas de certo não o suporto. Está certo que ele tem diversos problemas, não é um figura inteligente, então há de se ter mais calma com pessoas desse tipo. E eu tenho. Não queria ter. Gostaria de poder socá-lo. Mas o pensamento se vai. Levanto e desço para a rua. Vou almoçar. Retornando ao escritório, a temperatura agora está acima dos trinta e cinco graus. Desligaram o ar. Não falo nada, apenas o ligo novamente. Agora na temperatura mínima. Sinto uma gota de suor escorrer pelo meu olho. Lembro que há pouco tempo meu cabelo estava muito mais longo e agradeço por tê-lo cortado recentemente, esquenta menos a minha cabeça. Num dia como hoje, tudo pode ajudar. Abro meus e-mails. Num clique errado, abro um e-mail de dez anos atrás. Que época. Bom período da minha vida. Talvez o melhor. Não precisava ser responsável. Era feliz. Ou acho que era. O e-mail, recebido de uma garota linda, que na época flertava comigo. Lembrei de tantas outras, Beatriz, Mariana, Ana Paula, Carolina, tantas garotas. Faz parte da vida, todos que passam por ela e não ficam. Eu não fiquei na vida de muita gente. Ninguém fica. Poucos são os que trilham do nosso lado por um período significativo. Agora o ar condicionado começava a fazer efeito e eu já estava mais confortável. Tomo um gole de água e apago o e-mail antigo. Para que esse tipo de lembrança. Para uma pessoa que não sou mais. De uma pessoa que sequer reconheceria hoje. Mas começo a lembrar de outras pessoas, Antonio, Camila, Alexandre e Marcelo. Fiquei anos sem vê-los e ao reencontrá-los, parecia que o espaço de tempo afastado era cerca de um mês, ou um pouco mais talvez. O tempo me deixa louco. A gente deveria aprender a lidar melhor com ele. O que quero dizer com isso, acho que muitos lidam muito bem. Eu preciso aprender a lidar com isso. O tempo passa. O tempo modifica. Não consigo entender porque a advogada não me ligou até agora. E o rapaz do suporte já cancelou a visita. Não estou irritado. Cansado talvez. Me bate um sono. Daqueles fortes. Minha vontade era deitar no chão e cochilar por alguns minutos. Resolvo descer e ir embora. Já se passaram das sete e ninguém vai me retornar ligações agora. Penso como seria bom ir direto para o aeroporto. Sem data para retornar. Lembro de todas as atividades que tenho que realizar até o final da semana, até o final do mês, do ano. Não acabam nunca. Mas também. Se eu abandonasse tudo agora, não seria como se tudo explodisse. Existiria alguma dificuldade, mas outras pessoas realizariam essas atividades por mim. Esquece, não tenho dinheiro para ir para o aeroporto agora. Passa pela minha cabeça diversos valores. Mas na verdade, sei que dinheiro é apenas uma desculpa. Pessoas largam tudo com muito menos. Por muito menos. Não tenho estrutura emocional para viver uma vida de desapegos. Embora não seja apegado por tantas coisas. Aqui fora do escritório está tão quente.
Resolvo, no caminho de casa, parar num rua diferente. Vou caminhando entre lojas e restaurantes. Passo por bares, vejo uma enorme quantidade de jovens, mulheres dançando nas janelas, debruçadas como se estivesse em camarotes, vendo algum tipo de desfile. Certamente, eu não estou desfilando. Mas elas observam. Não sei o que me deu na cabeça, passar por uma rua como essa. Não me aborrece. Mas não sinto nada. Apenas uma vontade de chegar em casa mais tarde. Ao menos o sono passou. Sinto uma leve brisa no ar. Já não estou com tanto calor. As memórias novamente me levam há pouco mais de uma década atrás, quando estava acostumado com toda essa iluminação e o som alto de músicas que não dizem nada. Agora já aprecio outras coisas. Embora não sei ao certo se há qualidade no que eu ouço. Será sempre subjetivo. Como a minha vida. Caminho mais um pouco. Penso que conhecer uma nova rua é um tipo de viagem. Mesmo que no bairro onde eu moro há cerca de três anos. Tomo fôlego para andar mais rápido. Tomo um sorvete e finalmente estou na rua de casa. Aquele ônibus passa vazio e os vizinhos passeiam com seus cachorros ao redor de mim. Adoro cachorros mas não quero a responsabilidade de cuidar de um. Lembrei de uma amiga que perdeu o cachorro semana passada. Muito sofrimento. Não quero um cachorro. Acelero o passo e chego na portaria aceno para o porteiro. Antes de subir vejo a academia cheia. Não estou com vontade de fazer exercícios hoje, me sinto cansado novamente. São apenas nove horas. Deve estar passando algum programa estúpido na televisão. Tiro a roupa, fico à vontade. Coloco uma comida no forno e apoio os pés para cima. Agora estou confortável. Como e vou para o quarto. Ligo o chuveiro e penso o que vou fazer depois. Na televisão não tem realmente nada que preste. Penso em retomar a leitura de um dos três livros que estou lendo no momento. Me bate um cansaço. Melhor dormir. Para chegar amanhã. Para chegar a semana que vem. O próximo mês. Talvez em um ano eu consiga realizar uma daquelas viagens. Talvez daqui a dois.Será que em quinze anos terei realizado pelo menos metade das viagens que gostaria? Tomara que tenha prazer em algum dos meus sonhos essa noite.

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